Morar em um país e não dominar o idioma local é um dos fatores que mais gera o sentimento de não conexão e não pertencimento. Além disso, pode gerar sofrimento e ainda limitar a vivência em muitas experiências positivas. Descubra neste artigo quais fatores podem estar lhe impedindo de aprender o idioma local e o que você pode fazer para mudar essa situação.
Existe uma necessidade por parte do imigrante de preservar sua personalidade, sua identidade e voltar a ter a sensação do pertencimento. Só que isso o torna suscetível a sentimentos como angústia e ansiedade. Não falar a língua local é algo que dificulta a criação de vínculo com o novo país e, por isso, sua grande importância.
Há inúmeras razões para se aprender um outro idioma. Se você quer assimilar uma cultura, você tem que dominar em algum nível o idioma que pertence essa cultura. De acordo com Laraia (2002), a comunicação em si já é um processo cultural e, por termos domínio da linguagem, podemos transmitir conhecimento e criar um processo de acumulação de saberes. Assim, ele define que “a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral”. Portanto, a comunicação é essencial para a melhoria da qualidade de vida e para a integração dos imigrantes, além disso, aprender a língua do país é uma questão ligada à sobrevivência naquele novo lugar.
Dominar a língua pode evitar sofrimento
O Brasil está entre os países que mais possuem intercambistas pelo mundo. A literatura aponta que entre os estudantes estrangeiros universitários, além da instabilidade psicológica decorrente da graduação ou especialização, há os desafios da imersão cultural associados ao fato de estarem longe de casa. A falta da família, da comida de seu país de origem e dos amigos maximiza essa instabilidade, tornando-os candidatos perfeitos ao sofrimento psicológico. Os sintomas típicos identificados nos estudantes que não conseguem se adaptar costumam ser tristeza profunda, desânimo, conflitos relacionais, isolamento social, entre outros, conforme a mesma pesquisa.
O que pode ou não beneficiar o desenvolvimento interpessoal desses estudantes são a adaptação ao local- clima, alimentação, idioma, relações e valores culturais. Esses fatores variam de acordo com características pessoais dos intercambistas, como da sua situação socioeconômica, das redes sociais, de apoio e das políticas migratórias de acolhimento, etc.
O domínio da língua está relacionado à adaptação ao local, por isso, estudos foram feitos a fim de compreender o que pode atrapalhar na aprendizagem de um novo idioma. Em um estudo verificou-se que a falta de vocabulário no novo idioma contribuiu para que o sofrimento psicológico dos participantes fosse caracterizado por respostas emocionais como agonia, medo, insegurança, ansiedade e nervosismo. Foram observados comportamentos de silenciamento e isolamento a fim de fugir de possíveis comentários depreciativos sobre seu sotaque ou pela falta de entendimento durante a comunicação.
O autoconhecimento como aliado da aprendizagem
É muito comum, pessoas relatarem sentir medo ou vergonha de errar ao falar um outro idioma. É normal sentir isso até o ponto em que isso começa a bloquear seu aprendizado e a te impedir de evoluir.
No processo de aprendizagem de uma nova língua, cada pessoa reagirá de uma determinada maneira, pois cada um interpreta o mesmo evento de formas distintas. Por exemplo, a quem pense: " Que legal! É super desafiador aprender essa língua, mas vou conseguir pois adoro desafios"! ou " Isso aqui é muito difícil, nunca vou conseguir falar esse idioma, não quero passar vergonha"! Entre outros pensamentos.
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) diz que emoções e comportamentos são influenciados pela percepção que temos a respeito dos eventos e dos nossos pensamentos.
Assim, neste artigo você irá conhecer uma técnica da TCC que pode lhe ajudar a lidar com o medo de errar e aplicar conceitos da psicologia de forma autônoma. Mas, para isso, é preciso explicar um pouco da teoria, vamos lá?!
Uma breve explicação do modelo cognitivo da TCC
A forma como as pessoas se sentem emocionalmente e a maneira como se comportam estão associadas a como elas interpretam e pensam a respeito da situação. A situação em si não é determinante exclusiva de como as pessoas se sentem ou o que fazem. Logo, a sua resposta emocional é mediada pela percepção da situação.
Você pode passar anos estudando um idioma, lendo, escrevendo e frequentando aulas e ter a sensação de que não aprende nada porque muito provavelmente seus pensamentos estejam interferindo de forma a lhe causar ansiedade, medo ou vergonha na hora de pôr em prática a nova língua. Esses pensamentos são chamados de pensamentos automáticos e não são oriundos da sua elaboração cognitiva no aprendizado. Ao contrário, eles surgem espontaneamente, são geralmente rápidos e breves. Você mal os percebe, sua consciência está voltada para a emoção, e consequentemente surge uma reação a ela. E mesmo se você os percebe, você os aceita sem criticá-los.
Os pensamentos automáticos gerados a partir de uma situação estão relacionados aos fenômenos cognitivos mais permanentes- as crenças. Elas são desenvolvidas na infância, na relação consigo e com o mundo. As crenças intermediárias são as atitudes, regras, os pressupostos que você definiu em relação ao significado dos acontecimentos para você. Já as crenças centrais, ou nucleares, são compreensões duradouras e profundas, não questionadas pela pessoa, sobre si. São "verdades absolutas"- é como as coisas "são". As crenças nucleares influenciam o desenvolvimento das crenças intermediárias e as crenças intermediárias reforçam as crenças centrais.
Técnica da Seta Descendente para melhorar seu autoconhecimento
Uma boa ferramenta para identificar crenças nucleares e intermediárias é a Técnica da Seta Descendente, muito utilizada na Terapia Cognitivo Comportamental e que você pode utilizar também para se auto- avaliar.
Ao perceber uma situação que te gerou uma mudança de humor, observe e identifique o primeiro pensamento que te veio em mente, sem mesmo você ter refletido antes. Esse é o pensamento automático.
Em seguida, pergunte-se o que esse pensamento significa para você (presumindo que ele é verdadeiro) e o que ele revela sobre você.
Exemplificando essa técnica com a realidade de muitas pessoas que sentem dificuldade de aprender um novo idioma e com base no que é ouvido nos atendimentos:
1) O pensamento automático poderia ser assim: Ao tentar falar em inglês e não ser compreendida logo de primeira, já penso "Sou péssima em aprender inglês!".
2) Partindo da premissa que você realmente não é boa em aprender inglês o que isso significa para você?
Suponhamos que a resposta seria: "Significa que estou perdendo meu tempo estudando tanto, não consegui me comunicar, não estou vendo resultado, pois não consegui pôr em prática e ser compreendida nessa situação, isso quer dizer que não sou inteligente".
3) Agora é o momento de você se perguntar e o que tudo isso diz sobre você?
Uma possível resposta seria: "Não sou boa o suficiente, não sou capaz". Dessa forma, a crença nuclear de desamparo, de incapacidade, representada por essa fala, é a que está guiando a sua relação com o aprendizado do inglês.
Sendo assim, se você tem a crença de ser incapaz de aprender algo novo ou difícil, ao aprender um novo idioma suas interpretações a essa situação serão por meio das lentes dessa crença. Mesmo que a interpretação seja inválida, pois você já aprendeu coisas muito mais difíceis, ou que você entenda a dificuldade de se aprender um novo idioma já que esse é um processo demorado que exige dedicação, seus pensamentos automáticos podem boicotar sua aprendizagem.
Refletir as origens da crença, relembrar a infância, as vivências escolares e pensar nas realizações profissionais e acadêmicas concretizadas serão parte do caminho percorrido com a ajuda de um psicólogo, se necessário, para formular uma nova crença.
Leia o post O MEDO DE ERRAR TE PARALISA? O MODELO COGNITIVO DA TCC PODE TE AJUDAR para entender em mais detalhes o modelo cognitivo da TCC.
Veja também, abaixo outros 7 fatores que podem boicotar a aprendizagem de um novo idioma:
Estabelecer metas exigentes e prazos curtos.
Colocar-se em comparação com os outros.
Não seguir uma rotina de estudo.
Querer não ter sotaque e falar tão naturalmente quanto em português para começar a praticar com nativos.
Ter uma visão negativa do idioma (achar que é muito difícil, complexo...)
Medo de errar e sofrer julgamentos.
Medo de não conseguir se comunicar adequadamente e ser mal compreendido.
Solte a língua
Quando não falamos nossa língua materna, não somos idiomáticos. As frases formuladas costumam ser literais. A ironia e a conotação vêm com o tempo de prática e convívio com a cultura local. E isso acontece com todo mundo! Dessa forma, mesmo que você se ache sem graça e sem brilho ao se comunicar, o aprendizado do idioma é essencial para quem quer viver em um país estrangeiro. O idioma se apresenta como uma forma (muitas vezes a única) de acesso a direitos e oportunidades.
Aprender uma nova língua pode ser sim um processo desafiador para alguns, nem todo mundo tem afinidade com línguas. Mas também pode ser divertido! Além disso, você pode utilizar ferramentas a seu favor como a Técnica da Seta Descendente para detectar o que pode estar lhe bloqueando.
Tenha paciência, conecte-se com seus pensamentos e emoções durante o aprendizado, compreenda quem é a pessoa que está aprendendo um novo idioma e o que ela traz de bagagem positiva e negativa para essa aprendizagem. Divirta-se com as novas posições de artigos, preposições e com as diferentes conjugações verbais. Crie metas superáveis que você possa ver o resultado. Liberte-se dos seus próprios julgamentos e arrisque-se a falar. Cada um tem o seu processo, você precisa se conhecer para escolher as melhores estratégias.
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Além da autorreflexão, o processo de psicoterapia pode te ajudar a praticar para que usar técnicas como a da Seta Descendente se torne algo mais natural para você. Você irá aprender a identificar e nomear sentimentos e emoções, a observar e questionar seus pensamentos, a definir ações significativas para você e a colocar em prática suas ações! Agende agora sua sessão. Além disso, refinar seu autoconhecimento para uma mudança para o exterior é um passo essencial para torná-la mais bem sucedida. Se você gostaria de morar fora do Brasil aprenda tudo que precisa para viver essa jornada com leveza! Participe da próxima turma do Programa de Desenvolvimento Emocional, clicando aqui.
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Escrito por:
Beatriz Zanetti (CRP - 01/19319) - Psicóloga pela Universidade de Brasília e Mestre em Educação para Carreira pela Universidade Livre de Bruxelas. Dedica-se a auxiliar quem vive transições de vida e carreira, na busca por felicidade, presença e equilíbrio, no Brasil ou no exterior. Atendimentos em português e inglês.
Stephanie Marques - Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário IESB. Entusiasmada em aprender sobre o ser humano e o mundo, vê a escrita e a leitura como formas de disseminar o conhecimento.
Maria Luiza Rocha - Graduanda em Psicologia pela Faculdade Cesusc, Bacharel e Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Interessada em pessoas, cultura e sociedade.
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